Hoje há algo que quero partilhar contigo. Algo que foi muito especial para mim e ainda não partilhei, o tema de investigação na tese de mestrado que fiz em 2015.
Para além de desenvolver grande parte do meu trabalho na vertente da otimização da performance desportiva, existe outra vertente na qual adoro trabalhar, a reabilitação mental de lesões desportivas.
Todo nós sabemos que a lesão desportiva é um problema comum no quotidiano desportivo, e que é fundamental compreender como a mesma pode influenciar o rendimento do atleta e sua qualidade de vida. São diversos os fatores que estão relacionados com uma lesão e cada atleta possui as suas particularidades que precisam ser entendidas pelo psicólogo desportivo que deseja tornar ótimo o tratamento a fim de recuperar o atleta lesionado visando sua melhora integral.
Um dos principais fatores psicológicos mais relacionados com as lesões desportivas é o stress. Muitos atletas passam por momentos de stress onde é, por vezes, difícil realizar uma gestão eficaz da mesma. Seja em momentos de competição, antes da competição, durante ou após um conjunto de maus desempenhos e resultados. Seja em situação de treino, ou porque as coisas não estão a correr de acordo com o que estipulou, ou porque simplesmente não consegue “desligar” de situações externas ao desporto que lhe causa stress. Neste sentido, sabemos que atletas com maiores níveis de stress apresentam uma maior probabilidade de se lesionarem do que os que têm baixos níveis de stress.
Para além das causas físicas das lesões, tais como, fadiga, problemas musculares, articulares, entre outros, existem também as causas psicológicas. Estas são fatores fortemente relacionados à predisposição da mesma, bem como ao tempo de reabilitação e ao retorno às atividades desportivas.
Na prática desportiva é normal um atleta passar por várias situações que se refletem por várias respostas cognitivas (positivas, quando as situações são encaradas como desafios ou negativas, quando percecionada como uma ameaça).
O stress não é o único fator psicológico que pode levar ao surgimento de lesões desportivas, existem outros como por exemplo: a personalidade, histórias de fatores de stress e coping influenciam o processo de resposta ao stress.
O coping carateriza-se pelo conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para se adaptarem a diversas circunstâncias.
As estratégias de coping refletem ações, comportamentos ou pensamentos usados para lidas com o stressor.
No momento em que é necessário focar no processo de recuperação de uma lesão, para além do compromisso que é fundamental ter com os tratamentos, existe um conjunto de estratégias mentais que permitem ao atleta otimizar o processo de recuperação.
Quando realizei este estudo na área da reabilitação mental de lesões desportivas, primeiro fiz uma tradução e validação de um questionário que me permitiu avaliar as perceções dos atletas relativamente à lesão após o tratamento. Neste sentido, foi utilizado o questionário Sport Injury Rehabilitation Beliefs Survey de Taylor e May (1996), após validação. No segundo estudohavia objetivos muito claros que eu queria compreender, onde utilizamos o questionário sobre estratégias de coping, denominado Brief-Cope de Carver (1997), adaptado por Ribeiro e Rodrigues (2004).
Perceber qual o impacto do programa de reabilitação desportiva e saber quais as estratégias de coping utilizadas pelos atletas na recuperação, e se isso variava consoante a modalidade e o género.
Os resultados mostraram que a forma como os atletas quer de modalidades coletivas ou individuais percecionam a lesão da mesma forma. O que também mostram os resultados é que a forma como os homens e as mulheres percecionam a lesão não difere entre ambos.
No que se refere às últimas hipóteses que passava por perceber se existem diferenças nas estratégias de coping utilizadas na recuperação da lesão desportiva, consoante a modalidade e o género, verificou-se que existem diferenças estatisticamente significativas.
Em relação às modalidades os valores mostraram que existem diferenças nas dimensões auto culpabilização (“Culpabilizar-se e criticar-se pelo que lhe aconteceu”), ou seja, atletas de modalidades individuais tendem a auto culpabilizarem-se mais dos que os de desportos coletivos; expressão de sentimentos (“Aumento da consciência do stress emocional pessoal e a tendência concomitante para exprimir ou descarregar esses sentimentos”), em que os atletas de modalidades individuais tendem a demostrar mais os sentimentos do que os de desportos coletivos e negação (“Tentativa de rejeitar a realidade do acontecimento stressante”), sendo que os atletas de modalidades individuais demonstram um maior índice de negação quando comparados aos atletas de modalidades coletivas.
Por sua vez entre géneros também se conclui que existem diferenças em relação à dimensão humor (“Fazer piadas sobre a situação stressora”), sendo que os homens demonstram mais sentido de humor relativamente à lesão do que as mulheres.
Este trabalho permitiu-me ganhar mais consciência desta temática para uma melhor adequação das estratégias a trabalhar com atletas em processo de recuperação, em função da modalidade e do género.
Sabe mais em: https://repositorio.ipsantarem.pt/handle/10400.15/1359?locale=pt_PT
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